Perdi a pressa. Não olho mais as mudas recém-plantadas de hibisco com flores vermelhas dobradas imaginando ansioso a arvoreta que ela ainda será, toda florida em um belo dia de sol. Vejo só aquele diminuto tronco, com poucas folhas e uma única flor, na beleza de sua infância. Contemplo, não mais com a imaginação, mas com os olhos.
Nem sempre foi assim. Aliás, esta é uma conquista recente. Antes só conseguia ver a beleza no que eu achava que estivesse pronto, formado, completo. Foi cuidando do meu jardim que vi o quanto ele ensina. Ele foi me modificando aos poucos. É um ensinamento sem palavras, só com exemplos de vidas que sobrevivem ou desaparecem. Escolhi alguns deles:
O TEMPO DA VIDA
Tudo muda de um dia para o outro, nada fica igual num jardim. Hibiscos vivem em uma dimensão, palmeiras. Em outra. O hibisco é um florir sem fim, cada flor dura um dia, basta prestar atenção para comprovar. A palmeira observa do alto, sem pressa, sabendo que tem vida longa, nem precisa florir. Um cacho uma vez por ano está ótimo. Entre tempos tão diferentes, é essencial viver o jardim como ele está hoje, diante dos próprios olhos.
OLHOS PARA PODER VER
O olhar só encontra o que a gente está buscando. Quem não se importa com jardins é cego para folhas e flores, não dá para ver as folhas retorcidas e atacadas por cochonilhas. Do mesmo modo, ao procurar pragas é perfeitamente possível passar por uma orquídea recém-florida sem notar seu novo encanto. Treinar o olhar é um exercício de paciência que deve ser feito todos os dias e todas as noites.
A HUMILDADE
O jardim é importante para a gente, mas a gente não é importante para o jardim. A natureza não separa o ornamental do chamado mato, uma orquídea arundina vale tanto quanto um capim-colonhão. É preciso aceitar a luta pela vida, mesmo quando seu pé de romã amanhece devorado pelas formigas.
ESCOLHER SEMPRE
Para ter alguma coisa é preciso excluir outras. Não dá para ter tudo. É importante selecionar, escolher a planta certa, quase uma conquista mútua. É como se ela também estivesse olhando para você. Menos é mais. Tenha sempre menos plantas do que você poderia. Assim quando surgir uma nova paixão, você tem um lugarzinho para ela no seu jardim e no seu coração.
CONHECER PARA GOSTAR
A gente só gosta daquilo que conhece. E, para conhecer, é preciso conviver, cuidar, festejar com as que vão bem, sofrer com as que vão mal. Um jardinista aprende que não pode ganhar todas. Aceita as próprias limitações em entender o mundo complexo e infinito de modificações à nossa volta. E, a cada dia, aprende novas lições com seu jardim. Um dia, há de perder a pressa. Eu perdi. No meu jardim só há o presente, em constante transformação.Roberto Araújo
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